Se a nossa selecção de râguebi fosse um aluno do 12º ano, que média teria tido para entrar na Universidade?
A Nova Zelândia seria o aluno de 20 - o único que entraria em Medicina... -, a Escócia o aluno de 18, a Itália o aluno de 16, a Roménia e Portugal os alunos de 14.
Bons alunos, certamente, por isso chegámos ao Mundial, mas alunos de 14. Há outros melhores e outros muito melhores ainda.
A questão é esta: qual a atitude da sociedade e do Estado perante estes jovens que atingem médias que, no meu tempo, nos faziam dispensar do exame nacional de acesso à Faculdade e nos asseguravam o ensino universitário gratuito?
Nos termos das regras de acesso à Universidade pública em vigor, só a Nova Zelândia estaria em condições de optar pelo curso que quisesse. A Escócia, uma das melhores do mundo, já estaria dependente do curso que escolhesse e das médias dos outros alunos.
A selecção dos 'Lobos' seria recambiada para uma universidade privada, boa, má ou péssima, conforme a área que escolhesse.
'Os Lobos' simbolizam, no conceito deste artigo, os alunos que superam dificuldades que outros não têm de superar, seja a desestruturação familiar, sejam as limitações financeiras dos pais, seja a incapacidade de serem acompanhados por professores auxiliares (explicadores) ou pelos próprios pais (a maioria sem qualificações para poder acrescentar-lhes valor), ou seja, mesmo, uma capacidade intelectual ou de concentração inferior à dos melhores alunos.
Em primeiro lugar, o Estado deve considerar os alunos com média superior a 14 como um valioso activo social. As empresas que o digam. Um aluno de 14 não é um perdedor, é um vencedor.
Em segundo lugar, é crítico na gestão de recursos humanos fixar objectivos à medida das pessoas, cuja realização dependa do esforço individual de cada um.
É desumano o que sucedeu este ano com a súbita subida das médias de acesso: os alunos tinham objectivos traçados, motivaram-se, esforçaram-se, cumpriram os objectivos de referência (nuns casos médias acima de 18!) e foram excluídos do Ensino público ou das suas primeiras opções.
O Estado, não havendo lugar na Universidade pública, deve conceder aos alunos com mais de 14 uma bolsa de mérito.
O Estado pode criar escalões dentro deste princípio: um aluno de 18 tem, por definição e pleno direito, sempre lugar na Universidade pública (arranjar-lhe lugar é um problema do Estado e não do aluno!); o aluno de 16 deve ter direito a uma bolsa de 100%, um aluno de 14 deve ter direito a uma bolsa de, pelo menos, 50%.
Uma democracia social estruturada só para a Nova Zelândia não é democracia, porque constitui uma violência para a média dos seres humanos. Ajustar os sistemas sociais pelo desempenho dos campeões é um caminho perverso.
Um país, para mais atrasado no domínio das qualificações, que tem o atrevimento de não assegurar os sonhos dos alunos de 18, de pôr na corda bamba os alunos de 16 e de desprezar os alunos de 14 é um país injusto e incompetente.
António Pin to Leite, Expresso, Segunda-feira, 1 de Out de 2007
A Nova Zelândia seria o aluno de 20 - o único que entraria em Medicina... -, a Escócia o aluno de 18, a Itália o aluno de 16, a Roménia e Portugal os alunos de 14.
Bons alunos, certamente, por isso chegámos ao Mundial, mas alunos de 14. Há outros melhores e outros muito melhores ainda.
A questão é esta: qual a atitude da sociedade e do Estado perante estes jovens que atingem médias que, no meu tempo, nos faziam dispensar do exame nacional de acesso à Faculdade e nos asseguravam o ensino universitário gratuito?
Nos termos das regras de acesso à Universidade pública em vigor, só a Nova Zelândia estaria em condições de optar pelo curso que quisesse. A Escócia, uma das melhores do mundo, já estaria dependente do curso que escolhesse e das médias dos outros alunos.
A selecção dos 'Lobos' seria recambiada para uma universidade privada, boa, má ou péssima, conforme a área que escolhesse.
'Os Lobos' simbolizam, no conceito deste artigo, os alunos que superam dificuldades que outros não têm de superar, seja a desestruturação familiar, sejam as limitações financeiras dos pais, seja a incapacidade de serem acompanhados por professores auxiliares (explicadores) ou pelos próprios pais (a maioria sem qualificações para poder acrescentar-lhes valor), ou seja, mesmo, uma capacidade intelectual ou de concentração inferior à dos melhores alunos.
Em primeiro lugar, o Estado deve considerar os alunos com média superior a 14 como um valioso activo social. As empresas que o digam. Um aluno de 14 não é um perdedor, é um vencedor.
Em segundo lugar, é crítico na gestão de recursos humanos fixar objectivos à medida das pessoas, cuja realização dependa do esforço individual de cada um.
É desumano o que sucedeu este ano com a súbita subida das médias de acesso: os alunos tinham objectivos traçados, motivaram-se, esforçaram-se, cumpriram os objectivos de referência (nuns casos médias acima de 18!) e foram excluídos do Ensino público ou das suas primeiras opções.
O Estado, não havendo lugar na Universidade pública, deve conceder aos alunos com mais de 14 uma bolsa de mérito.
O Estado pode criar escalões dentro deste princípio: um aluno de 18 tem, por definição e pleno direito, sempre lugar na Universidade pública (arranjar-lhe lugar é um problema do Estado e não do aluno!); o aluno de 16 deve ter direito a uma bolsa de 100%, um aluno de 14 deve ter direito a uma bolsa de, pelo menos, 50%.
Uma democracia social estruturada só para a Nova Zelândia não é democracia, porque constitui uma violência para a média dos seres humanos. Ajustar os sistemas sociais pelo desempenho dos campeões é um caminho perverso.
Um país, para mais atrasado no domínio das qualificações, que tem o atrevimento de não assegurar os sonhos dos alunos de 18, de pôr na corda bamba os alunos de 16 e de desprezar os alunos de 14 é um país injusto e incompetente.
António Pin to Leite, Expresso, Segunda-feira, 1 de Out de 2007
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