terça-feira, novembro 14, 2006

Ilusionismo político

Ilusionismo político
Após a reeleição de José Sócrates, com 97,2% dos votos dos militantes socialistas, muitos vaticinaram erradamente que o XV congresso do PS seria pouco interessante.
A reunião magna dos socialistas, em Santarém, permitiu avaliar até que ponto este novo PS se transformou num espectáculo colorido, em que não interessa se o discurso é coerente ou incoerente, verdadeiro ou falso, apenas importa passar a mensagem para aplainar as dificuldades.
Não é por acaso que José Sócrates se queixa mais dos analistas políticos do que de uma comunicação social cada vez mais domesticada, salvo raras excepções.
Ninguém de boa fé tem dúvidas: José Sócrates aplica a política da direita no governo, mas reforça o discurso de esquerda do PS.
O congresso dos socialistas revelou um potencial líder da ‘Terceira Via’, enquanto a esquerda europeia aguarda o funeral político de Tony Blair.
A cartilha é a mesma: mantém-se o cor-de-rosa mais ou menos encarnado, acrescentam-se umas tiradas em nome dos mais pobres e juntam-se juras em relação à justiça social e ao Estado-Providência, mas lá no fundo o que realmente conta é o máximo lucro, a euforia bolsista e a globalização selvagem.
O simbolismo é tudo. É o regresso do político providencial, com ar cansado e sofrido, que luta contra todas as incompreensões e protestos, sempre firme e distante, por Portugal.
A imagem que passa e a sondagem positiva para o líder na hora certa valem mais do que mil palavras.
A proeza de disfarçar a crispação social e o protesto popular, o chumbo do Tribunal de Contas em relação aos números da Segurança Social e as dúvidas da União Europeia sobre as projecções de crescimento económico, entre a discussão do Orçamento de Estado e a realização do congresso de Santarém, não está ao alcance de qualquer um, nem seria possível sem uma máquina profissional e muito bem oleada.
Quem assistiu ao congresso do PS até pode ter ficado convencido que o messias da esquerda moderna chegou ao poder em Portugal. Mas, quando a publicidade é enganosa, a ilusão não resiste ao tempo.
Os últimos trinta anos de democracia já demonstraram que é preciso muito mais do que o marketing político para resolver os problemas do país.
Rui Costa Pinto, Visão, 13.11.06

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