sexta-feira, janeiro 20, 2006

D. Sebastião I, Janeiro 20, 1554


Aí está ele: "o desejado" que se tornou uma figura mítica e recorrentemente utilizada na vida pública portuguesa. Sempre que as coisas não nos correm bem ou, pelo menos, atravessam uma fase menos positiva, eis que a tendência é logo para encarnarmos esta figura histórica em alguém presente que se encaixe neste perfil de Salvador da Pátria.
É o que se passa agora com estas Presidenciais. Alguns quiseram logo colar Cavaco à fifgura de D. Sebastião que do nevoeiro viria reerguer Portugal num abrir e fechar de olhos. Não é verdade, o Professor Cavaco não é nem pretender ser nenhum D. Sebastião, apenas é o candidato com o perfil de maior rigor e competência para assumir o cargo de mais alto magistrado da Nação neste momento tão dificil e conturbado que vivemos em termos nacionais.
D. Sebastião I (20 de Janeiro de 1554 - 4 de Agosto de 1578), décimo-sexto Rei de Portugal, e sétimo da Dinastia de Avis. Era neto do rei João III, tornou-se herdeiro do trono depois da morte do seu pai, o príncipe João de Portugal duas semanas antes do seu nascimento, e rei com apenas três anos, em 1557. Em virtude de ser um herdeiro tão esperado para dar continuidade à Dinastia de Avis, ficou conhecido como O Desejado; alternativamente, é também memorado como O Encoberto ou O Adormecido, devido à lenda que se refere ao seu regresso numa manhã de nevoeiro, para salvar a Nação.
Durante a sua menoridade, a regência foi assegurada primeiro pela sua avó
Catarina da Áustria, princesa de Espanha, e depois pelo tio-avô, o Cardeal Henrique de Évora. Neste período Portugal continuou a sua expansão colonial em África e na Ásia, onde se adquiriu Macau em 1557. O jovem rei cresceu educado por Jesuítas e tornou-se num adolescente de grande fervor religioso, que passava muito tempo em jejuns e o resto em caçadas. Sebastião desenvolveu uma personalidade mimada e teimosa, dada a sua posição de rei, aliada à convição de que seria o capitão de Cristo numa nova cruzada contra os Mouros do Norte de África.
Assim que obteve a maioridade, Sebastião começou a preparar a expedição contra os marroquinos de
Fez. Filipe II de Espanha recusou participar naquilo que considerava uma loucura e adiou o casamento de Sebastião com uma das suas filhas para depois da campanha. O exército português desembarcou em Marrocos em 1578 e ignorando os conselhos dos seus generais, Sebastião rumou imediatamente para o interior. Na subsequente batalha de Alcácer-Quibir, o campo dos três reis), os portugueses sofreram uma derrota humilhante às mãos do sultão Ahmed Mohammed de Fez e perderam uma boa parte do seu exército. Quanto a Sebastião, provavelmente morreu na batalha ou foi morto depois desta terminar. Mas para o povo português de então o rei havia apenas desaparecido.
Ele tornou-se então numa lenda do grande patriota português - o "rei dormente" (ou um
Messias) que iria regressar para ajudar Portugal nas suas horas mais sombrias, uma imagem semelhante à do Rei Artur tem em Inglaterra ou Frederico Barbarossa na Alemanha.
Durante o subsequente domínio espanhol (
1580-1640) da coroa portuguesa, três pretendentes afirmaram ser o Rei D. Sebastião, tendo o último deles - um italiano - sido enforcado em 1619.
Mesmo no
século XIX, lavradores Sebastianistas no sertão brasileiro acreditavam que o rei iria regressar para ajuda-los na luta contra a "República ateia Brasileira" (Ver Revolta dos Canudos).
O rei Sebastião foi um rapaz frágil, um resultado de casamentos entre a mesma família desde várias gerações. Por exemplo, ele só tinha quatro bisavós (em vez dos normais 8), e todos eles descendentes do Rei
D. João I. Havia casos de demência na família (a sua bisavó foi a rainha Joana, a Louca, de Espanha).
Em conclusão, a
Dinastia de Avis, popular entre o povo após ter guiado Portugal à sua época de ouro, acabou por submergir na busca de um sonho: a União Peninsular. As mesmas complicações causadas pela procriação consanguínea causou as mortes das crianças de D. João III e a loucura e desespero dos seus netos (Sebastião e Carlos), os últimos príncipes de Avis-Habsburgo.

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